O ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva é quem paga o aluguel do apartamento vizinho ao dele, no último andar do edifício Hill House, em São Bernardo do Campo, no ABC, segundo informou o presidente do
Instituto Lula, Paulo Okamotto, na tarde desta segunda-feira (7). O apartamento foi comprado em 2011 por Glaucos da Costamarques, primo do empresário José Carlos Bumlai, de acordo com reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo” publicada nesta segunda. Compadre de Lula, Bumlai foi preso na Operação Lava Jato.
"Os pagamentos foram feitos pelo presidente Lula. Está na declaração do imposto de renda", disse Okamotto em entrevista à rádio CBN. Okamotto afirma ainda que o imóvel foi alugado "por uma questão de segurança e para servir de base de apoio". Okamotto não comentou sobre o fato de o apartamento ser do primo de Bumlai, mas afirmou ao jornal "O Globo" que o imóvel
precisava ser de uma pessoa conhecida.
José Carlos Bumlai foi preso na 21ª fase da Operação Lava Jato. Segundo o “Estadão”, o primo de Bumlai, o aposentado Glaucos da Costa Marques, disse que comprou o apartamento em 2011. Glaucos afirmou que pagou R$ 500 mil pelo apartamento e que Lula foi mantido como inquilino. O ex-presidente paga R$ 4,3 mil por mês por meio de transferência bancária. Segundo Okamoto, "os pagamentos foram feitos pelo presidente Lula. Está na declaração do Imposto de Renda".
A reportagem do
Jornal Nacional procurou Glaucos Costa Marques no prédio onde ele mora, em Campo Grande. A porteira do prédio informou que ele estava viajando.
De acordo com a reportagem, essa segunda cobertura já era usada por Lula desde o primeiro ano na presidência. De 2003 até 2007, o PT pagou pelas despesas do imóvel para que o então presidente guardasse o acervo que doou ao partido. A reportagem diz ainda que no segundo mandato, o governo assumiu os custos sob a justificativa de que era necessário para a segurança do então presidente.
Segundo Okamotto, o apartamento foi inicialmente alugado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) antes de Lula virar presidente "por uma questão de privacidade e segurança, porque uma porta bate com a outra". Quando o petista foi eleito, a Presidência da República alugou o apartamento “por uma questão de segurança e também para manter uma base de apoio”, disse Okamotto.
“No final do mandato, tinha um processo de venda do apartamento e se achou uma pessoa para comprar aquele apartamento que tivesse apenas interesse de investir, e não de morar. E foi isso que foi feito”, afirmou Okamotto.
Em nota divulgada nesta segunda, o advogado do ex-presidente Lula, Roberto Teixeira, diz que o proprietário do apartamento morreu em março de 2010 e os herdeiros decidiram colocá-lo à venda. Teixeira reconhece que foi ele quem indicou o referido imóvel a Glaucos da Costa Marques (leia a íntegra da reportagem no fim desta reportagem).
Na operação da última sexta, policiais federais só conseguiram identificar a existência da segunda cobertura porque o síndico do prédio informou que ela era usada por Lula. Fontes do Jornal Nacional confirmaram que foi a ex-primeira-dama Marisa Letícia quem abriu a cobertura 121 para a Polícia Federal. O mandado de busca e apreensão era apenas para o apartamento 122, em que mora o ex-presidente.
Amizade
O aluguel da cobertura no ABC Paulista levou as investigações da Lava Jato, mais uma vez, ao pecuarista Bumlai. Ele e Lula se conheceram em 2002, durante a campanha eleitoral. Depois da vitória na eleição para o primeiro mandato, Lula e Bumlai se tornaram amigos.
As famílias se aproximaram. Uma das fotos no inquérito da Polícia Federal mostra que Bumlai frequentava as festas juninas que o então presidente e a primeira-dama ofereciam na Granja do Torto, em Brasília.
No governo Lula, Bumlai tinha livre acesso ao Palácio do Planalto. Tanto que, a certa altura, funcionários do governo colocaram um aviso sobre Bumlai bem na entrada do prédio. A imagem do pequeno cartaz foi publicada em 2011 pela revista “Veja”. Nele estava escrito: “O senhor José Carlos Bumlai deverá ter prioridade de atendimento na portaria principal do Palácio do Planalto, devendo ser encaminhado ao local de destino, após prévio contato telefônico, em qualquer tempo e em qualquer circunstância”.
Naquela época, o amigo de Lula era visto apenas como um bem-sucedido pecuarista e chegou a ser integrante do “conselhão”, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do governo. Quando veio a Lava Jato, ele começou a ser citado por envolvidos no esquema. No fim de novembro do ano passado, foi preso (assista à reportagem acima).
Confira a íntegra da nota enviada pelo advogado do ex-presidente Lula, Roberto Teixeira:
"1) Não sou proprietário de nenhum apartamento no Edifício Green Hill;
2) O apartamento 121 do Edifício Green Hill era locado pela Presidência da República/Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para servir de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva;
3) Em 08 de março de 2010, falecido o proprietário, os herdeiros do imóvel notificaram o GSI, com base no art. 27, da Lei de Locações, informando a sua intenção de venda, já indicando o valor sugerido;
4) Como advogado especialista em Direito Imobiliário e conhecedor dessa intenção de venda, indiquei o referido imóvel ao Sr. Glaucos da Costamarques, que concretizou a compra mediante escritura de cessão de direitos hereditários. O processo judicial correspondente (inventário) ainda aguarda finalização;
5) Em 31/01/2011, o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a ser o locatário do imóvel, pagando aluguel ao novo proprietário ao valor de mercado;
6) Esses fatos vieram a tona em virtude do reprovável vazamento da Declaração de Imposto de Renda do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, onde constam expressamente os pagamentos feitos ao Sr. Glaucos da Costamarques;