Um aluno de 16 anos da rede pública de Campinas (SP) foi
aprovado em medicina na Unicamp. O curso foi o mais concorrido do vestibular 2016, de acordo com a Comvest, que é responsável pela organização do exame. Vítor Santana Costa contou ao
G1 que esta foi a primeira vez que ele fez a prova e que ficou surpreso com o resultado.
"Foi a primeira que prestei Unicamp. Sempre foi meu foco. Eu prestei só Unicamp e Enem. Quando você presta várias, você não consegue focar. Eu não achei que ia passar. Eu fiquei chocado de passar porque todo mundo fala que é muito difícil, eu não achei tão difícil assim. Todo mundo fala que é um bicho de sete cabeças e eu não achei esse bicho ainda", afirma.
Eu não estudei só o que a escola passava, porque eu gosto de estudar. No terceiro ano, eu tive um professor que conseguiu uma bolsa pra mim num cursinho. Eu fiz junto o ensino médio, mais o cursinho, e estudei em casa. De manhã eu ia pra escola, a tarde ia para o cursinho e à noite estudava em casa até de madrugada"
Vítor Santana Costa, aprovado em medicina
DeterminaçãoNo entanto, chegar a esse resultado exigiu do jovem muita garra e determinação. Vítor morava na Bahia e veio para
Campinas em 2013 para cursar o ensino médio. Além do período em sala de aula na escola estadual Professor Adalberto Prado e Silva, que fica na Vila Costa e Silva, ele conta que também estudava pelo menos quatro horas em casa.
"Eu sempre estudei em escola pública, só que eu sempre estudei em casa. Eu não estudei só o que a escola passava, porque eu gosto de estudar. No terceiro ano, eu tive um professor que conseguiu uma bolsa pra mim num cursinho em agosto. Eu fiz 3 meses de cursinho e 2 meses de revisão. Eu fiz junto o ensino médio, mais o cursinho, e estudei em casa. De manhã eu ia pra escola, a tarde ia para o cursinho e à noite estudava em casa até de madrugada", lembra.
Apoio da família
O jovem conta que o gosto pelo estudo veio do incentivo da tia, que é professora e cuida dele desde pequeno. "Os meus tios que me criam, porque minha mãe tem depressão. Quando era criança, ela me ensinou desde cedo a estudar, por isso que eu gosto. Ela que incentivou a estudar e quando eu entrei na escola pública eu sabia tudo da primeira série. Daí eu fiz uma prova, fui muito bem e passei pra segunda direto", destaca.
Vítor conta também que o tio sempre o incentivou muito e precisou fazer uma jornada dupla no trabalho para que ele pudesse estudar. "Nós não temos muito dinheiro. Então, o mais lógico seria eu trabalhar, mas o meu tio tem uma dupla jornada, tem dois empregos para que eu não precise trabalhar, só estudar. Ele pensou bastante no meu futuro. Eles me apoiam muito", ressalta.
Campus da Unicamp, em Campinas, onde fica o
curso de medicina (Foto: Fernando Pacífico / G1).
Professores
O estudante ressalta também que os professores da escola estadual Adalberto Prado e Silva o ajudaram bastante para que essa conquista fosse possível.
"Meus professores acreditaram bastante em mim. Quando eu cheguei na escola, eu não era um aluno tão bom, mas eu sempre tive facilidade para aprender. Só que daí meus professores começaram a me incentivar e fui tirando notas melhores. Eu prestei as Olímpiadas de Matemática e fui medalha de prata. Eu passei também na UFSCar em enfermagem e ganhei uma bolsa integral para engenharia da computação", conta.
O professor de língua portuguesa Edison Cardoso Lins, que deu aula para Vitor quando ele cursava o terceiro ano do ensino médio na escola, conta que ele sempre foi um aluno determinado.
"Foi o aluno mais brilhante que passou ali. Eu fico um pouco emocionado quando eu falo dele. Juntamos professores e demos apoio a ele. Quando ele foi aprovado na primeira fase já foi uma grande conquista. O fato dele ter 16 anos, a história pessoal dele, tudo isso valoriza muito essa conquista. Isso mostra também que há alunos brilhantes na escola pública, ele é referência disso", destaca.
Neurologia
O jovem conta que no início sua ideia era fazer engenharia, mas mudou de opinião depois de fazer um curso de férias na própria
Unicamp.
"Na verdade, eu queria ser engenheiro, só que eu ganhei um curso de férias na Unicamp, participei do Ciência e Arte nas Férias, aí eu conheci um pouco de cada área e não gostei muito da engenharia. Eu tenho muita facilidade com matemática, mas não gostei de engenharia, eu gostei de biologia humana, de medicina mesmo. Foi a parte que mais gostei", lembra.
Apesar de ainda estar se preparando para a matrícula, ele já faz planos e conta que decidiu a especialidade médica em que desejará atuar depois de formado. "Eu quero fazer neurologia, estudar o cérebro do ser humano. Eu gosto bastante de entender a complexidade do ser humano. Assim vou ajudar as pessoas e a minha família que sempre cuidou de mim", finaliza.
Vestibular 2016 da Unicamp recebeu 77,7 mil inscrições (Foto: Fernando Pacífico / G1)